A Beirã - Memórias de família
Trata-se de uma ficção baseada em muitos factos reais e memórias de família, materna e paterna, que perduram e primam por alguma graciosidade. Aproveitam-se nomes próprios de pessoas e de algumas localidades, bem como determinados percursos humanos, fazendo-os muito idênticos à própria realidade, contextualizando-os historicamente entre as últimas décadas do século XIX e os primeiros cerca de sessenta anos do século XX. Assistimos às suas façanhas e vemos como estas personagens se desenvolvem tendo em conta os valores, as vicissitudes, o acaso e as opções pessoais tomadas perante a transitoriedade inerente, as suas crenças, ideais e raízes incontornáveis.
A contextualização destas personagens no tempo e no espaço torna-as atrativas e vivas, não desperdiçando as vivências que, nem sempre comuns, lhes dão características próprias e as enriquecem, despertando interesse.
Dá-se espaço à compartimentação e crítica social, bem como a estereótipos. Vemos comportamentos consequentes de mentalidades distorcidas e de uma tentativa desenfreada de mobilização de várias camadas da classe média cuja pretensão de fazer parte de uma elite já perdida no tempo contrasta com uma outra, bem mais reduzida, mas sustentada.
Assistimos, algumas vezes, à alusão de questões duais como o bem e o mal, o pecado e o perdão, o céu e o inferno, a opressão e a liberdade ou a vida e a morte.
Dá-se destaque ao papel da mulher na família e na sociedade, ao longo deste período temporal, e à exortação do Eu através do anónimo mundo interior perante as adversidades, alegrias e decisões.
O Amor, esse, é vivo, arrebatador e cheio de sensualidade, criando enlevo nos seus amantes.
A coincidência entre a ficção e a realidade faz com que nos deparemos com alguns clichês do género literário em questão, que surgiram, por isso, de forma espontânea e aleatória.